quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O poder japonês no atletismo


         Sempre que é falado sobre atletismo de alto nível, todos automaticamente lembram dos quenianos, etíopes, eritreus ou dos atletas africanos em geral. Para os mais "aprofundados" no assunto, lembram também da escola americana e de alguns países da Europa, mas o que poucos sabem é que a escola japonesa de atletismo pode ser considerada uma das três maiores do mundo, e não digo isso só pelo resultado de Yuki Kawauchi na última Maratona de Nova Iorque, que foi o sexto colocado e o primeiro atleta de origem não africana, desbancando grandes nomes da atualidade na distância, como Meb Keflezighi, por exemplo. A expressividade do Japão vai muito além de um resultado ou outro.



                  Eu adoro assistir as maratonas do Japão, pois são as mais numerosas do mundo se tratando de atletas de elite. É impressionante! 
             É comum ver cerca de 30 atletas correndo em bloco até o km 30 e correndo rápido, em pace médio próximo de 3 minutos por km. Todos em ritmo mais forte que o ganhador de qualquer maratona no Brasil. Pra ter uma idéia, na última Maratona de Tokyo, três atletas do país completaram a distância abaixo de 2:10:00. Masato Imai marcou 2:07:39. Um total de 30 atletas japoneses abaixo da marca de 2:20:00, e de 88 abaixo de 2:30:00. Sim, 88 atletas! 
             Mais uma vez comparando com o nosso país, o melhor colocado do ranking desse ano, Marilson Gomes, tem 2:11:00 feito na Maratona de Hamburgo. Sua melhor marca é 2:06:34 em Londres, 2011 (fonte: IAAF). 
             Um fato bem interessante a destacar, é a quantidade de vezes que os japoneses correram a maratona abaixo de 2:10:00 na história, um total de 127 vezes, segundo o site Letsrun.com (datado de 2013), contra 41 vezes dos atletas americanos. Hoje o número com certeza é bem maior! Acredito que só o Quênia e a Etiópia têm um saldo maior que esse. 




             Os resultados deles não se restringem somente às corridas de rua. Dias atrás em uma prova de pista eles mostraram o quanto devem ser respeitados lá também! 
         Kota Muruyama, de 22 anos, guiado por um pelotão de africanos, em especial quenianos, marcou simplesmente 27'29"69 nos 10.000 metros rasos, pace de 2'44 por km, se tornando o novo recordista do país, superando a marca do lendário Toshinari Takaoka, quem em 2001 marcou 27'35"09. Mas foi o único resultado do dia? Não! Tetsuya Ioroiazaka, de 25 anos, chegou na cola, com 27'29"74. Com esse resultado eles ocupam a 23° e 24° posições do ranking mundial da distância em 2015 (fonte IAAF, acesso em 08/12/2015).
          Ainda na mesma competição, Shuho Dairokuno, de também 22 anos marcou 27'46"55, seguido por Yuta Shitara, de 23 anos, com 27'53"84, de Tsuyoshi Ugachi, 27'55"02, Hiroyuki Yamamoto, com 27'55"40, pra completar a lista de 6 japoneses na mesma prova, e de 12 atletas no ano com marcas sub 28 minutos na distância, até agora. 


Kota Muruyama




         Agora cheguei onde eu queria chegar, a base, exatamente o que não temos aqui, e isso pode ser o grande motivo da diferença de nível entre eles e nós. Lá, os campeonatos universitários revelam os grandes atletas dos país. São competições realmente grandes, e pra mostrar um pouco de como é o negócio, lhes mostro o Campeonato Universitário de Meia Maratona dos caras do ano passado. É incrível!
         Para termos uma noção básica de nível, vou usar a marca de 1:10:00 na distância. Levemos em consideração uma de grande porte no Brasil e dificilmente temos 30 atletas correndo abaixo desse tempo. Nesse campeonato, mais de 500 atletas correram até esse tempo. Sim, QUINHENTOS ATLETAS. Beleza, é um tempo alto de corte? Vamos afrouxar isso então! Agora vamos usar a marca de 1:06:00, que da o pace médio de 3'07 por km, e temos 207 atletas batendo essa marca. Mais uma vez, sim, DUZENTOS E SETE atletas! Vamos dificultar ainda mais? Agora 1:03:00 (2'59 pace) como marca de corte, e temos 10 atletas. O campeão Hideto Yamanaka de apenas 19 anos marcou 1:02:09. 
         A 50ª colocação ficou com o tempo de 1:04:09, por Renya Sugiyama. A 100ª com 1:04:47, por Ryuta Seki. A 150ª, 1:05:29, Takahiro Ogawa. A 200ª, 1:05:55, Eishi Nakahira. 300ª, 1:06:48. 400ª, 1:08:02. 500ª, 1:09:21. E por fim, até 1:10:00, a 546ª colocação, com 1:09:59. 
        


               Enfim, melhor que dizer, é mostrar, e aqui ponho em vídeos a sequência da competição: 




Esse primeiro vídeo entrou para a lista dos que mais me impressionaram até hoje se tratando de corrida. Pra quem em algum momento duvidou do texto acima, essa aqui é a passagem do km 5. Alguém aí já viu em algum lugar algo parecido com isso?





Esse segundo vídeo é a passagem do km 17, onde já da pra ter uma idéia dos possíveis campeões. Após 1 minuto vem novamente aquele gigante pelotão.






E por fim, a chegada. É muito legal ver como esses caras se esforçam. Pelo vídeo da pra ver que todos chegam em esforço máximo, tentando acelerar até o último metro. É inspirador!





         O que dizer? Só tenho palmas a bater pra esses caras!



         Resumo do caso: temos muito o que aprender e crescer. O Brasil é um país gigante, com muito talento perdido por aí. Que tal o Japão como referência? Vamos sonhar!
               



        
          Espero que tenha gostado. Se gostou, compartilhe com os amigos. Se não curtiu algo, comente, e tentarei melhorar na próxima. E já falando dela, não deixe de voltar, pois será com o nosso grande Marilson Gomes dos Santos, numa matéria show de bola, ou melhor dizendo, de corrida! rs 


         
         Um grande abraço e até lá!
         











2 comentários:

  1. Sensacional a matéria, Leonardo, e vemos que lá se valoriza acima de tudo a competição, não tem obaoba como vemos aqui no Brasil atualmente. Se pegarmos vídeos antigos, de 30 anos atrás, de corridas pedestres aqui no Brasil, a competição também era valorizada acima de tudo, se seguíssemos a curva de evolução, hoje o Brasil se não estivesse à frente do aletismo de fundo do Japão, estaria pau a pau.

    ResponderExcluir
  2. Excelente matéria, temos que repesar o atletismo e a corrida no Brasil, lamentável os resultados de hoje em dia, pouquíssimos atletas apresentando desempenhos satisfatórios, no feminino então a coisa fica pior, vamos pegar os bons exemplos e tirar esse individualismo geral que assola o Brasil, cada um quer ganhar um pouco e com isso o atletismo perde muito.

    ResponderExcluir